Problema: A educação a distância no Brasil ainda apresenta falhas sob o ponto de vista sistêmico.
A escola sistêmica, preconizada por Bertalanfy conforme estudo detalhado de Chiavenato (2004), surgiu na metade do século passado com o intuito de avaliar como as diferentes áreas da ciência como: biologia, física e Química estão relacionadas. Destes estudos, verificou-se a possibilidade de uma análise genérica para as demais áreas do conhecimento.
Para Chiavenato (2004, pg. 392), os sistemas são abertos, integrados e desenvolvem princípios unificadores, sendo assim, interagem mutuamente. Ainda neste raciocínio, “a teoria de sistemas permite reconceituar os fenômenos dentro de uma abordagem global, permitindo a inter-relação e integração de assuntos que são, na maioria das vezes, de natureza completamente diferentes” (CHIAVENATO 2004, pg. 394). Para este mesmo autor, o conceito de sistema perpassa pela idéia de um conjunto de elementos que interagem entre si para formar um todo.
Sob os baluartes desta teoria, a teoria de sistemas, Moore e Kearsley (2007, pg. 10) escreveram a importância de se entender e valorizar os sistemas quando o assunto é educação a distância. Para estes autores, a exemplo dos escritos de Bertalanfy, o corpo humano é o melhor exemplo para se entender a interdependência vital entre os subsistemas (sistemas menores) na formação de um sistema maior. Neste sentido, a linha que divide o sistema circulatório do sistema respiratório, por exemplo, passa a ser tão tênue, que ela deixa de existir, tamanha a dependência entre estes e os outros subsistemas na formação e manutenção do sistema maior, o sistema humano.
Para Moore e kearsley (2007, pg. 9 e 11), este princípio também se aplica às organizações de ensino, em especial, às de ensino a distância, pois seus atores operam em ambientes distintos na maioria das vezes em que há interação entre si. “Um sistema de educação a distância é formado por todos os processos componentes que operam quando ocorre o ensino e o aprendizado a distância, incluindo: aprendizado, ensino, comunicação, criação e gerenciamento”. Nestes moldes, é possível compreender o quanto é complexo o subsistema composto por alguns alunos, por exemplo, onde cada um interage com os colegas, professor, tutor, meios de comunicação e conteúdo de um determinado curso. Sendo assim, pode-se deduzir que há uma variação no grau de complexidade dos sistemas na medida em que se focaliza parte de seus subsistemas e que a alteração em qualquer um destes pode afetar o sistema como um todo.
Ao visualizar os subsistemas de uma instituição de ensino a distância tais como: fonte de conhecimento, gerenciamento de materiais dos cursos, transmissão de conteúdo, professores, alunos, controle e subsistema administrativo e compará-los com as críticas impostas pelos alunos, professores e outros atores direta ou indiretamente envolvidos no processo de ensino-aprendizagem a este sistema maior — educação a distância, verifica-se uma falha crucial em sua visão sistêmica e, talvez, determinante para o futuro desta modalidade de ensino no Brasil. Como exemplo, não são raras as vezes em que o material didático escolhido por um professor ou o conteúdo de determinada disciplina não encontra respaldo nos meios de comunicação adotados para a transmissão de dados ou valores para seus alunos. Como agir de maneira integrada nestes casos? Nesta mesma linha, os desenvolvedores de sistemas operacionais muitas vezes desconhecem as peculiaridades de cada disciplina no momento em que estão criando as plataformas de comunicação e interação com os alunos da instituição. Esta mesma falha acontece com os dados gerenciais e de controle por parte da administração.
Não se deve acreditar em “receita” pronta ou visão prescritiva daquilo que deve ser a educação a distância sob o ponto de vista de suas engrenagens, entretanto, o recomendado pela literatura ainda é uma maior integração entre as partes envolvidas no processo de ensino-aprendizagem, desde seu input até o seu output. Quanto mais unificadas estiverem as partes que compõe o todo, maior será a eficácia da organização de educação a distância. Para isso é necessário maior diálogo e planejamento a fim de se alcançar plena integração. Quando isso ocorrer, as mudanças no ensino a distância serão tão profundas que todos os envolvidos neste processo não se cansarão em buscar melhorias e se acharão em tão plena forma como uma orquestra o é depois muitos ensaios em conjunto.
Marcílio Gomes
Referências
CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração: edição compacta. 3. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Campus, 2004. xxviii, 494 p
MOORE, Michael G.; KEARSLEY, Greg. Educação a distância: uma visão integrada. São Paulo: Thomson Learning, c2007. 398 p.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário