sexta-feira, 1 de julho de 2011

Visita a Casa da Moeda do Brasil

Após uma recepção calorosa do Sr. Sérgio e um desjejum sem igual, fomos convidados a conhecer parte dos seus 110 mil metros quadrados de área construída, sempre acompanhados por profissionais altamente comprometidos, carismáticos e qualificados. Parabéns Casa da Moeda!
Confira!























Professor Marcílio, idealizador do projeto, acompanhado da vice-diretora Edite e coordenadoras Marta e Marcela.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Um pouco sobre o mercado financeiro

Stephen Kanitz

A maioria dos leitores deve achar uma maluquice as seguidas oscilações nas bolsas de valores.
"Prefiro aplicar em imóveis, é mais seguro."
"Bolsa é para quem tem estômago, meu negócio é fundo DI."
"Bolsa de valores é um mercado de risco, estou fora." Felizmente, a verdade é outra.
Todo dia, menos de 1% das ações é transacionado na bolsa.

Na próxima vez em que você ler que "a bolsa cai 10% num dia de intenso nervosismo", lembre-se de que 99% dos investidores nem tomaram conhecimento.

A maioria não vendeu suas posições, só os apavorados o fizeram.
Nem o 1% que vendeu em pânico necessariamente perdeu dinheiro, muito menos 10%.

Quem comprou ações dois anos atrás vendeu-as com lucro, mesmo que tenham caído no dia exato da venda. Portanto, por que tanta comoção?

Se, em vez de ações na bolsa, você tivesse comprado um flat service num bairro qualquer, um quadro do Scliar ou um livro raro de Camões, você nem saberia quanto o valor desses objetos oscilou nesse "dia de intenso nervosismo".

Provavelmente, os preços desses objetos permaneceram na mesma, simplesmente porque ninguém comprou algo parecido no dia.

Na próxima crise financeira, tente vender seu apartamento, seu quadro ou seu livro raro em cinco minutos, como se faz na Bolsa de Valores de São Paulo.

Você simplesmente não vai conseguir, não há bolsa de livros raros, nem de quadros famosos, nem de flat services com movimentação e preços diários.

Se você realmente precisar de dinheiro, provavelmente um corretor poderá vender o que você quer com 30% de desconto, anunciando o que se chama de galinha-morta.

O jornalismo econômico comete enorme injustiça com o mercado de ações, só porque a bolsa de valores é transparente, divulga tudo on-line, tem preços minuto a minuto, o que permite que os jornalistas tenham assunto todo dia.

Isso não ocorre no setor de imóveis, de quadros nem no de livros raros.

Quadros, livros e imóveis ilíquidos num dia de nervosismo valem zero para quem precisa desesperadamente de dinheiro. Mas isso ninguém divulga.

Como todo administrador financeiro saberá lhe explicar, o que varia de fato de um dia para outro é o preço que você paga para ter liquidez imediata.

Em dias de "intenso nervosismo", é o preço por liquidez que aumenta, não é o preço da ação que cai.

Você poderia ganhar fortunas comprando nessas horas, oferecendo liquidez a gringos apavorados, mas, se você é levado a acreditar que o mundo está despencando, provavelmente sairá vendendo também.

Em dias de "intenso nervosismo", o preço por liquidez poderá ir para 10% do valor da ação e 30% do valor do imóvel.

Só que 99% das pessoas se recusam a pagar esse preço por liquidez – preferem esperar que as coisas se acalmem, no que fazem muito bem.

O que ninguém noticia nessas horas de "intenso nervosismo" é que todo dia metade das pessoas está comprando o que a outra metade está vendendo.

A metade otimista compra da metade pessimista.

Se incluirmos os 99% que continuam com suas ações, mostrando portanto certo otimismo com relação ao futuro, todo dia tem muito mais otimistas por aí do que pessimistas.

Na próxima vez em que você ouvir um comentário de que a bolsa é um mercado de risco, pense duas vezes. A volatilidade da bolsa é bem menor que a dos imóveis, quadros e livros raros, justamente por que tem sempre alguém comprando, mesmo durante uma crise.

Do ponto de vista financeiro, a volatilidade de algo invendável num dia de "intenso nervosismo" é 100%, mas eu concordo que essa posição é um tanto polêmica, e nem todos irão concordar.

Meu ponto, porém, é outro: não é justo considerar alguns mercados "voláteis" somente porque permitem ao comprador vender tudo em questão de minutos, o que não ocorre com quadros, imóveis nem livros raros.

Ações de terceira linha também não têm liquidez imediata, e investidores dessas ações esperam dias melhores, como fazem os de imóveis e livros raros.

Mas isso não significa que sejam menos voláteis, simplesmente significa que nesses outros mercados não há cotações nem negócios realizados para virar manchete de jornal.

Stephen Kanitz
disponível em:

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Violência Assimétrica no Lar.

Violência Assimétrica


Por Stephen Kanitz,

Um dia, o campeão mundial de pugilismo Éder Jofre me procurou pedindo ajuda para abrir uma ONG.
Ele queria ensinar pugilismo para meninos de favela.
Ele havia percorrido empresas à busca de patrocinadores, mas a maioria simplesmente não queria nem conversar, muito menos patrocinar um projeto que, segundo eles, estimulasse a violência.
“Você está louco, Éder? Nós somos da paz”.
“Você não sabe que violência gera violência?”
Éder Jofre me perguntou se eu sabia qual era o profissional que menos batia nos filhos. “Pugilistas”, respondeu ele.
Quem bate nos outros sistematicamente sabe que vai levar um soco de volta na certa.
Pugilistas e seus filhos aprendem bem cedo a serem responsáveis pelos seus atos.
Todos nós aprendemos nas escolas que violência gera violência e que a solução para contê-la é justamente a oposta: é “ser da paz”, e “virar a outra face”.
Hoje sabemos, graças às análises advindas da teoria dos jogos e da genética comportamental, que essa visão é equivocada. Essas análises matemáticas mostram justamente o contrário.
É a violência assimétrica que gera mais violência.
É a violência sem revide, sem contrapartida, ignorada, que leva a mais violência. Quando a violência natural de um filho é ignorada, ela vai aumentando sem limites.
No fundo, boa parte da violência é uma forma de comunicação, uma comunicação violenta. Bater e grafitar a parede do vizinho são formas de comunicação que extrapolam os limites da ética.
Não estou aqui propondo revidar à altura, muito menos revidar com uma bomba nuclear.
O que se defende é que pequenas violências precisam ser revidadas com pequenos limites e rápidas ações corretivas enquanto a violência ainda é mínima.
Requer ação contínua, e não o "eu vou contar tudo para o seu pai quando ele vier sábado que vem, no dia de visitação".
Por isso pai que é pai tem de estar presente. Esta é, infelizmente, uma das tarefas que culturamente ficou a cargo dos pais.
Este conceito de combate à violência era adotado há 10.000 anos.
Era o "olho por olho", que hoje é mal visto.
Era um princípio de educação social que exigia atenção contínua a cada ato de violência.
O que não significa que o revide fosse na mesma intensidade.
O problema do "olho por olho" é que se não for ensinado corretamente, pode extrapolar e piorar a situação. Como muitas vezes ocorria.
Entre as famílias, um olho por olho mal conduzido às vezes não terminava, e durava um século.
Ou então, a briga começava por uma besteira e escalava para um conflito perigoso.
É aqui que surge a grande inovação no conselho cristão de "virar a outra face".
Se um dos lados envolvidos numa sequência de "olho por olho" não virar a outra face de vez em quando, os conflitos inter famílias e inter tribos poderiam nunca cessar.
Perdoar de vez em quando é bem diferente do que perdoar sempre e aceitar violências contra si indiscriminadamente, sem reagir.
Portanto, a função do pai de família é ser severo, impor limites, até com algumas punições, mas sempre pontuais - e, acima de tudo, perdoar de vez em quando.
É balancear, de vez em quando o "olho por olho" e o "virar a outra face".
Quando os pais não estão presentes ou não são atuantes neste balanceamento delicado no seio de suas famílias, criam-se filhos que acabam se acostumando com a violência assimétrica, em que não há contrapartida, em que a violência corre solta.
Daniel Patrick Moynihan, no seu livro “Family and Nation”, já argumentava que não era a pobreza que desestruturava a família, era a desestruturação da família que gerava a pobreza.
Uma afirmação corajosa na época, e que até hoje é considerada politicamente incorreta.
Daniel era um sociólogo democrata, o que somente aumentou a celeuma em torno de sua constatação pelos seus colegas de partido.
Ele apontava que 25% dos negros americanos não tinham os pais morando em casa, e que isso somente iria aumentar a violência da população negra americana. Detalhe: isso foi escrito em 1960.
Sua previsão se confirmou, pois, nestes quarenta anos, nos Estados Unidos, o número de jovens negros sem pais aumentou para 68% das famílias.
Existem mais negros adolescentes nas prisões do que nas faculdades; e a chance de um negro ser assassinado por um branco é de uma em vinte, e de ser assassinado por outro negro é de dezenove em vinte.
Os Estados Unidos não têm só um problema racial; eles têm um problema, antes de tudo, de desestruturação de suas famílias.
A encrenca americana é que a população branca também está indo pelo mesmo caminho.
Hoje, 35% dos jovens brancos não têm mais um pai como membro da família.
Homens normalmente brigam com seus filhos com jogos de empurra-empurra, luta corpo a corpo e briguinhas de brincadeira.
Tudo faz parte de uma herança cultural milenar e de uma herança genética ainda mais longa. Você já viu animais e cachorros fazendo a mesmíssima coisa.
São jogos de baixa violência e têm um valor didático. Exagerou, apanhou. Mordeu, de fato será mordido.
Cachorros não mordem seus irmãos, só fingem.
Brincando de casinha e bonequinha, sonhos de nossas feministas, uma criança do sexo masculino aprende outras coisas, mas nunca a controlar a sua violência física.
Justamente o contrário: a violência aumenta quando não revidamos.
Esta é a grande lição que algumas mulheres, que preferem aguentar quietas as violências que aturam, precisam aprender.
Ficar quieto aumenta a violência. Não revidar significa legitimar a violência assimétrica.
Se você é um pai separado, provavelmente não usará os poucos momentos que você tem no “seu dia” com as crianças para colocar limites. Seu objetivo será mimá-los.
Se você é um pai separado, sequer estará presente para reagir imediatamente de forma moderada nas várias pequenas violências que seus filhos irão perpetrar.
O olho por olho com moderação não irá prevalecer na sua família. Sua ex-esposa irá acumular reclamações para que você, no domingo à tarde, dia de visitação, discuta o assunto com sua filha ou filho.
"Mamãe me contou que na terça você fez isso, na quinta fez aquilo, e no sábado, ontem, fez assado.
Eu já disse, meu filho, que você não pode atazanar a mamãe, e por isso vou tirar seu cartão de crédito por um mês."
Gilbert and Sullivan, dois compositores ingleses, têm uma canção que diz "a punição sempre deve corresponder à gravidade do crime".
Só eles para colocarem uma frase como essa numa canção.
Mas poetas deveriam fazer justamente isso: colocar em verso e prosa as regras morais de seu povo. Nunca exagerar na dose da punição.
Punir em dose tripla os três casos da semana, só porque você é separado, somente tornará seu filho violento, pois ele achará a punição injusta.
A traquinagem de terça deveria ter sido discutida na terça, e não acumulada a mais dois eventos no domingo à tarde.
Deixar outras travessuras passar em branco, porque você não as presenciou ou porque acha que a mãe está exagerando, também não gera uma família que combate a violência assimétrica. Pelo contrário: adota-a.
Todo e qualquer deslize deve ser tratado com pequenos avisos ou amenas admoestações. Para isso, são necessários pais presentes, atentos e carinhosos.

Disponível em: http://tinyurl.com/658cjl7

quinta-feira, 26 de maio de 2011

O Brasil no rumo certo!

Por que os Estados Unidos são o país mais bem-sucedido do mundo?

Porque são um país que resolveu o problema da miséria e da estagnação econômica, ao contrário do Brasil?

O segredo americano, e que você jamais encontrará
em nenhum livro de economia, é que os Estados Unidos
são um país bem administrado, um país administrado por profissionais.

Dezenove por cento dos graduados de universidades americanas são formados em administração.

Administração é a profissão mais frequente, e portanto a que dá o tom ao resto da nação.



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Engenheiros fazem MBA, advogados fazem MBA, economistas como Michael Porter fazem MBA, o que os tornam pessoas que conseguem tirar projetos do papel.

Como eles se encontram finalmente juntos numa sala da aula, criam empresas das mais variadas, do que escritorios de advocacia, consultorias de economia, e escritórios de engenharia.

Infelizmente, o Brasil nunca foi bem administrado.

Sempre fomos "administrados" por profissionais de outras áreas, desde nossas empresas até o governo.

Até recentemente, tínhamos somente quatro cursos de pós-graduação em administração, um absurdo!

De 1832 a 1964 a profissão mais frequente no Brasil era a de advogado, e foi essa a profissão que exerceu a maior influência no país.

Tanto que nos deu a maioria de nossos presidentes até 1964.

A revolução de 1964 acabou com a era do advogado e a legalidade.

A maioria dos advogados, engenheiros, sociológos e administradores se recusaram a colaborar com a Ditadura Militar e infelizmente fomos traídos pelos economistas, que assumiram a maioria dos postos da ditadura. Fazenda, Planejamento, Banco Central, BNDES, e conseguiram quase monopólio que dura até hoje.

Nos próximos dez anos achei que tudo isto lentamente mudaria. O Brasil já tem 2.300 cursos de administração, contra 350 em 1994.

Estamos logo depois dos Estados Unidos e da Índia.

Administração já é hoje a profissão mais frequente deste país, com 18% dos formandos.

Antes, nossos gênios escolhiam medicina, direito e engenharia. Agora escolhem medicina, administração e direito, nessa ordem.

Há dez anos tínhamos apenas 200.000 administradores, e só 5% das empresas contavam com um profissional para tocá-las.

O resto era dirigido por "empresários" que aprendiam administração no tapa. Como o Sandoval do Panamericano e seu livro "Aprendendo Fazendo". O custo de aprendizado quebrou o banco.

Por isso, até hoje 50% das empresas brasileiras quebram nos dois primeiros anos e metade de nosso capital inicial vira pó. E por isto os juros são caros, a inadimplência é elevada.

O que o aumento da participação dos administradores na gestão das empresas significará para o Brasil?

Uma nova era que poderia ser muito promissora.

Finalmente poderíamos ser administrados por profissionais, e não por amadores.

Daqui para a frente, 75% das empresas poderiam não quebrar nos primeiros quatro anos de vida, e nossos investimentos poderiam gerar empregos, e não falências.

Em 2011, teremos 2 milhões de administradores formados, e se cada um empregar vinte pessoas haverá 40 milhões de empregos novos. Será o fim da exclusão social.

Administradores nunca foram ouvidos por políticos e deputados nem concorriam a cargos públicos.

A maioria dos nossos ministros e governantes aprendiam administração no próprio cargo, errando a um custo social imenso para a nação.

Foi-se o tempo em que o mundo era simples e não havia necessidade de ter um curso de administração para ser um bom administrador.

Não quero exagerar a importância dos administradores, mas somente lembrar que eles são o elo que faltava.

Ordem não gera progresso, estabilidade econômica não gera crescimento de forma espontânea, sempre há a necessidade de um catalisador.

Não será uma transição fácil, pois as classes dominantes não aceitam dividir o poder que têm. Os economistas não vão largar o poder de 50 anos to fácil. Tivemos dois economistas como candidatos em 2010, teremos mais dois economistas candidatos em 2014, Aécio e Dilma.

Administradores têm pouco espaço na imprensa para defender suas ideias e soluções.

Em pleno século XXI, eu era um dos raros administradores com uma coluna na grande imprensa brasileira a Veja, e mesmo assim mensal, e foi por pouco tempo. Fui substituido por um economista que deixou o governo com 10.000% de inflação anual.

Peter Drucker desde 1950 tinha uma coluna semanal em dezenas de jornais americanos, ele e mais trinta gurus da administração.

Administradores têm outra forma de encarar o mundo.

Eles lutam para criar a riqueza que ainda não temos.

Economistas e intelectuais lutam para distribuir a pouca riqueza que conseguimos criar, o que só tem gerado mais impostos e mais pobreza.

Se esses 2 milhões de jovens administradores que vêm por aí ocuparem o espaço político que merecem, seremos finalmente um país bem administrado, com 500 anos de atraso.

Desejo a todos coragem e boa sorte. A oposição será enorme, e não somente dos economistas.

Tem muita gente interessada num país mal administrado, onde é mais facil corromper e ser corrompido.

Este texto foi elaborado por: Stephen Kanitz e está disponível em:
http://blog.kanitz.com.br/a-era-do-administrador-.html

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Você Conhece o Japão? Será?

Martin Fackler – Memuro (Japão)
Satomi Sato, uma viúva de 51 anos, sabia que teria dificuldades para criar uma filha adolescente com os menos de US$ 17 mil por ano que ganhava em dois empregos. Mesmo assim, ela ficou surpresa no ano passado, quando o governo anunciou pela primeira vez uma linha oficial de pobreza –e que ela estava abaixo dela. “Eu não quero usar a palavra pobreza, mas certamente sou pobre”, disse Sato, que trabalha nas manhãs preparando almoços embalados e nas tardes entregando jornais. “A pobreza ainda é uma palavra muito incomum no Japão.”
Após anos de estagnação econômica e aumento da desigualdade de renda, este país antes orgulhosamente igualitário está despertando tardiamente para o fato de que possui um número grande e crescente de pobres. A revelação pelo Ministério do Trabalho, em outubro, de que quase um entre cada seis japoneses, ou 20 milhões de pessoas, vivia na pobreza em 2007, espantou o país e provocou um debate sobre os possíveis remédios que apenas se inflamou de lá para cá. Muitos japoneses, que se agarram ao mito popular de que seu país é uniformemente de classe média, ficaram ainda mais chocados ao ver que o índice de pobreza no Japão, em 15,7%, era próximo do número da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 17,1% para os Estados Unidos, cujas gritantes desigualdades sociais foram por muito tempo vistas com escárnio e compaixão aqui. Mas talvez igualmente surpreendente tenha sido a admissão por parte do governo de que vinha mantendo as estatísticas da pobreza em segredo desde 1998, enquanto negava que havia um problema, apesar das evidências ocasionais do contrário. Isso acabou quando um governo de esquerda, liderado pelo primeiro-ministro Yukio Hatoyama, substituiu no ano passado o Partido Liberal Democrata que governou por muito tempo, com a promessa de forçar os burocratas lendariamente sigilosos do Japão a serem mais transparentes, particularmente em relação aos problemas sociais, disseram autoridades do governo e especialistas em pobreza. “O governo sabia do problema da pobreza, mas o estava escondendo”, disse Makoto Yuasa, chefe da Rede Antipobreza sem fins lucrativos. “Ele tinha medo de enfrentar a realidade.”
Seguindo uma fórmula internacionalmente reconhecida, o ministério estabeleceu uma linha de pobreza em cerca de US$ 22 mil por ano para uma família de quatro, metade da renda média de um lar do Japão. Os pesquisadores estimam que a taxa de pobreza do Japão dobrou desde o colapso dos mercados de imóveis e ações do país no início dos anos 90, provocando duas décadas de estagnação de renda e até mesmo declínio. O anúncio pelo ministério ajudou a expor um problema que os assistentes sociais dizem ser facilmente ignorado no Japão relativamente homogêneo, que não possui as altas taxas de criminalidade, a decadência urbana e as divisões raciais dos Estados Unidos. Especialistas e assistentes sociais dizem que os pobres do Japão podem ser difíceis de serem apontados, porque eles se esforçam para manter a aparência do conforto da classe média. Poucos japoneses empobrecidos parecem dispostos a admitir seu apuro, por temor de serem estigmatizados. Apesar de pouco mais da metade das mães solteiras do Japão, como Sato, serem pobres – uma proporção mais ou menos semelhante à dos Estados Unidos – ela e sua filha, Mayu, 17 anos, não medem esforços para esconder sua carência. Elas exibem sorrisos, ela disse, mas “choram por dentro” quando amigos ou parentes conversam sobre férias, um luxo que elas não podem arcar. “Dizer que somos pobres chamaria a atenção, então eu prefiro esconder”, disse Sato, que mora em um projeto habitacional nesta pequena cidade cercada por terras agrícolas planas, sem árvores, que lembram o Meio-Oeste americano. Ela disse que já tinha pouco dinheiro antes de seu marido, um operador de maquinário de construção, ter morrido de câncer de pulmão há três anos. Ela disse que as dificuldades da família começaram no final dos anos 90, quando o declínio econômico piorou aqui na ilha de Hokkaido, no norte, como aconteceu em grande parte do Japão rural. Mesmo com dois empregos, ela disse que não pode pagar uma consulta médica ou comprar os medicamentos para tratamento de uma série de problemas de saúde, como tontura e dores nas juntas. Quando sua filha precisou de US$ 700 para comprar uniformes escolares e se matricular no colégio no ano passado, uma exigência comum aqui, ela economizou para isso reduzindo suas refeições para duas por dia.
Especialistas em pobreza consideram típico o caso de Sato. Eles dizem que mais de 80% daqueles que vivem na pobreza no Japão fazem parte da chamada classe trabalhadora pobre, que recebem baixos salários, têm empregos temporários sem nenhuma segurança e poucos benefícios. Eles geralmente têm dinheiro suficiente para comer, mas não para realizar atividades normais, como jantar fora com os amigos ou ir ao cinema. “A pobreza em uma sociedade próspera geralmente não significa dormir em trapos no chão”, disse Masami Iwata, uma professora de bem-estar social da Universidade Feminina do Japão, em Tóquio. “Essas são pessoas com celulares e carros, mas que estão cortadas do restante da sociedade.” Anos de desregulamentação do mercado de trabalho e concorrência com os baixos salários da China provocaram uma proliferação de empregos mal remunerados no Japão, dizem os economistas. Além disso, esses empregos costumam não ser cobertos pela rede de segurança social ultrapassada, criada décadas atrás como um último recurso, em uma era em que a maioria dos homens podia esperar empregos que durariam a vida toda. Isso abriu uma enorme fenda na qual caíram milhões de japoneses. Um deles foi Masami Yokoyama, 60 anos, que perdeu o emprego que teve durante toda sua vida há uma década, enquanto lutava com a depressão após um divórcio. Ele teve uma série de empregos de baixa remuneração até três anos atrás, quando acabou virando um morador de rua de Tóquio. Ainda assim, as autoridades de bem-estar social da cidade rejeitaram três vezes seu pedido, porque ele ainda era um homem capaz. “Assim que você cai no Japão, não há ninguém para aparar sua queda”, disse Yokoyama, que finalmente obteve uma ajuda limitada do governo e encontrou um emprego de meio período como vigia noturno.
Ganhando grande atenção aqui estão as estatísticas que mostram que uma entre sete crianças vive na pobreza, um motivo para o novo governo ter prometido oferecer uma ajuda mensal de US$ 270 por criança e cortar o custo do ensino médio. Ainda assim, os assistentes sociais dizem que temem que os pobres não conseguirão pagar pelas escolas lotadas e outras despesas para que seus filhos possam competir no sistema de educação de alta pressão do Japão, os relegando a um ciclo permanente de trabalho de baixa remuneração. “Nós corremos o risco de criar uma classe baixa crônica”, disse Toshihiko Kudo, um membro do conselho da Ashinaga, um grupo sem fins lucrativos com sede em Tóquio que ajuda crianças pobres e órfãs. Sato expressou temores semelhantes em relação à sua filha, Mayu. Mayu quer frequentar uma escola vocacional para se tornar dubladora de desenhos animados, mas Sato disse que não tem como arcar com a despesa anual de US$ 10 mil. Mesmo assim, ela permanece otimista, mesmo que resignada. Ela disse que seu maior problema é não ter ninguém com quem falar. Apesar de saber que muitas outras famílias já enfrentaram dificuldades semelhantes nesta cidade pequena, a recusa delas em admitir sua pobreza torna impossível encontrá-las. “Na cama à noite, eu penso: ‘Como eu caí tanto? Como fiquei tão isolada?” disse Sato. “Mas geralmente eu tento não pensar a respeito.”

http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/nytimes/2010/04/22/abalado-pela-crise-o-japao-enfrenta-a-realidade-da-pobreza.jhtm

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Vale a pena negociar com os EUA?

Um Acordo Comercial com os Estados Unidos Faz Sentido?
Isto é um teste de administração econômica que vai mudar a forma de você pensar um dos grandes problemas nacionais:

O crescimento e ameaça da Índia e da China que nos vêem como concorrentes potenciais.

Parceria conosco, esqueçam.

A maioria dos intelectuais da USP, Unicamp e Brasília foram contra a ALCA e são contra qualquer acordo comercial que aumente o intercâmbio de produtos entre o Brasil e os Estados Unidos.

Apesar de que 30% dos Estados Unidos será controlado por Latino Americanos em 2020 e que comprariam nossos produtos numa boa.





Poderíamos criar marcas e fazer marketing direto, em vez de vender commodities para multinacionais americanas.
A razão desta rejeição é devida à crença que se fizermos um acordo comercial com os Estados Unidos, as empresas americanas simplesmente irão destruir as empresas brasileiras.

Se você acha que um acordo bilateral seja um ganha- ganha, não precisa ler este artigo.

Mas se você acha que seria um ganha-perde, onde nós sairíamos perdedores, leia com atenção, e por favor não me chamem de entreguista ou algo parecido.

Imaginem que existam somente 4 empresas no mundo, duas nos Estados Unidos e duas no Brasil.

Como existem barreiras comerciais, os dois países não comercializam muito entre si, e as 4 empresas sobrevivem sem nenhuma competição externa.

Aí, um maluco com ideias “neoliberais”, sugere abrir as portas comerciais entre os dois países.

O que irá acontecer com cada uma destas 4 empresas ?

1. Se você respondeu que 2 destas empresas irão falir no dia seguinte da liberalização, você acertou em cheio.

Por isto, tem tanto empresário na luta contra acordos de comércio, e a ALCA em particular, e a globalização em geral.

2. Se você respondeu que serão justamente as 2 empresas brasileiras que irão quebrar, você está em boa companhia.

A maioria dos nossos intelectuais acha o mesmo, como já expliquei acima.

3. Se você respondeu que uma empresa americana e uma empresa brasileira irão quebrar, você será um bom administrador, e especialmente um bom Ministro da Fazenda.

A resposta correta é prever a falência de 1 empresa americana, a intensiva de mão de obra onde os produtos são costurados à mão, num país com mão de obra cara.

E, a falência de 1 empresa brasileira, a de raquetes de tênis, por exemplo, que usa materiais de alta tecnologia.

O que você deve estar se perguntando é por que não são as duas empresas americanas que sobrevivem, destruindo com seu poder de fogo as duas empresas brasileiras?

Porque nenhuma empresa americana em sã consciência quer receber Reais como pagamento.

Todas querem receber dólares, a moeda de seu país, com os quais pagam os salários dos seus trabalhadores.

Você que é advogado ou psicólogo, gostaria de receber de um paciente nigeriano, pagamento em Nairas ? Por quê não? É preconceito?

Mas é isto que aconteceria.

Você poderia a contragosto sair comprando Produtos Nigerianos ou vender suas Nairas a um importador que faria bom uso do dinheiro, dando Reais em troca.

Por isto, toda importação gera a longo prazo uma exportação de igual valor, e vice versa.

Portanto, não é correta a análise difundida por aí que a globalização e a Alca acabarão com todas as nossas indústrias.

Acabarão com algumas delas, o que obviamente é suficiente para gerar enorme gritaria na FIESP.

São as empresas familiares atrasadas que mais sofrerão, e obviamente já sabem disto.

A liberalização do comércio quebraria uma empresa da FIESP, mas mais do que dobraria o tamanho da outra empresa que sobreviverá.

Perderíamos a indústria de raquetes de tênis mas a indústria de bolas esportivas que usa couro e mão de obra barata cresceria, e provavelmente seria ocupada por milhares de pequenas empresas do Nordeste.

Não entendo como a Unicamp não percebeu isto.

Como a maioria destas empresas nem existe ainda, não tem como se organizar e defender em Brasília seus futuros interesses.

Se você acha que foi FHC, Lula ou a esquerda brasileira que votou contra a ALCA, você está redondamente enganado.

A esquerda mais uma vez foi usada pelos empresários e seus economistas para defender os interesses da extrema direita, em detrimento do progresso desta nação.

Agora vejam as consequências:

O PIB americano hoje é + ou - 10 vezes maior que o PIB brasileiro.

Com um acordo bilateral as empresas americanas que venderiam mais para o Brasil teriam uma expansão de mercado de 10% ( 1/10), ou seja, nada espetacular.

Não haveria para eles nenhuma economia de escala, não daria para introduzir um sistema de produção mais produtivo.

Por isto as empresas americanas até desistiram de lutar pela ALCA, o ganho não valia a pena o custo político, já que nem o Brasil se interessava.

Mas notem o que os economistas brasileiros nunca divulgaram, nem o mais neoliberal.

As empresas brasileiras de bolas esportivas teriam um mercado 10 vezes maior, ou 1000%, (10/1) uma bela diferença.

Claro que o comércio seria igual para os dois países, digamos 1 bilhão exportado e 1 bilhão importado.

Mas para algumas empresas brasileiras seria uma enorme vantagem competitiva. Você consegue perceber o motivo?

As dicas estão aí em cima, é só repescar a informação.

Com 1000% de aumento, estas empresas teriam enormes economias de escala, e não somente os 10% das americanas.

Permitiria mudar radicalmente sua forma de produção o que permitiria baratear ainda mais o seu custo unitário.

Poderíamos até pensar em competir, inclusive com a Índia e a China.

Mas o sonho acabou.

Quem comemorou o fim da ALCA, nunca estudou administração econômica nem contabilidade.

Perdemos um grande mercado, justamente aquele que está permitindo à China ganhos enormes de produtividade.

Parabéns a todos que deram ouvidos aos nossos brilhantes intelectuais que nunca trabalharam numa empresa brasileira.

Disponível em: http://blog.kanitz.com.br/2011/03/um-acordo-comercial-com-os-estados-unidos-faz-sentido-.html#more

Perguntas ou Respostas?

Um dos maiores choques de minha vida foi na noite anterior ao meu primeiro dia de pós-graduação em administração. Havia sido um dos quatro brasileiros escolhidos naquele ano, e todos nós acreditávamos, ingenuamente, que o difícil fora ter entrado em Harvard, e que o mestrado em si seria sopa. Ledo engano.

Tínhamos de resolver naquela noite três estudos de caso de oitenta páginas cada um. O estudo de caso era uma novidade para mim. Lá não há aulas de inauguração, na qual o professor diz quem ele é e o que ensinará durante o ano, matando assim o primeiro dia de aula. Essas informações podem ser dadas antes. Aliás, a carta em que me avisaram que fora aceito como aluno veio acompanhada de dois livros para ser lidos antes do início das aulas.

O primeiro caso a ser resolvido naquela noite era de marketing, em que a empresa gastava boas somas em propaganda, mas as vendas caíam ano após ano. Havia comentários detalhados de cada diretor da companhia, um culpando o outro, e o caso terminava com uma análise do presidente sobre a situação.

O caso terminava ali, e ponto final. Foi quando percebi que estava faltando algo. Algo que nunca tinha me ocorrido nos dezoito anos de estudos no Brasil. Não havia nenhuma pergunta do professor a responder. O que nós teríamos de fazer com aquele amontoado de palavras? Eu, como meus outros colegas brasileiros, esperava perguntas do tipo "Deve o presidente mudar de agência de propaganda ou demitir seu diretor de marketing?". Afinal, estávamos todos acostumados com testes de vestibular e perguntas do tipo "Quem descobriu o Brasil?".

Harvard queria justamente o contrário. Queria que nós descobríssemos as perguntas que precisam ser respondidas ao longo da vida.

Uma reviravolta e tanto. Eu estava acostumado a professores que insistiam em que decorássemos as perguntas que provavelmente iriam cair no vestibular.

Adorei esse novo método de ensino, e quando voltei para dar aulas na Universidade de São Paulo, trinta anos atrás, acabei implantando o método de estudo de casos em minhas aulas. Para minha surpresa, a reação da classe foi a pior possível.

"Professor, qual é a pergunta?", perguntavam-me. E, quando eu respondia que essa era justamente a primeira pergunta a que teriam de responder, a revolta era geral: "Como vamos resolver uma questão que não foi sequer formulada?".

Temos um ensino no Brasil voltado para perguntas prontas e definidas, por uma razão muito simples: é mais fácil para o aluno e também para o professor. O professor é visto como um sábio, um intelectual, alguém que tem solução para tudo. E os alunos, por comodismo, querem ter as perguntas feitas, como no vestibular.

Nossos alunos estão sendo levados a uma falsa consciência, o mito de que todas as questões do mundo já foram formuladas e solucionadas. O objetivo das aulas passa a ser apresentá-las, e a obrigação dos alunos é repeti-las na prova final.

Em seu primeiro dia de trabalho você vai descobrir que seu patrão não lhe perguntará quem descobriu o Brasil e não lhe pagará um salário por isso no fim do mês. Nem vai lhe pedir para resolver "4/2 = ?". Em toda a minha vida profissional nunca encontrei um quadrado perfeito, muito menos uma divisão perfeita, os números da vida sempre terminam com longas casas decimais.

Seu patrão vai querer saber de você quais são os problemas que precisam ser resolvidos em sua área. Bons administradores são aqueles que fazem as melhores perguntas, e não os que repetem suas melhores aulas.

Uma famosa professora de filosofia me disse recentemente que não existem mais perguntas a ser feitas, depois de Aristóteles e Platão. Talvez por isso não encontramos solução para os inúmeros problemas brasileiros de hoje. O maior erro que se pode cometer na vida é procurar soluções certas para os problemas errados.

Em minha experiência e na da maioria das pessoas que trabalham no dia-a-dia, uma vez definido qual é o verdadeiro problema, o que não é fácil, a solução não demora muito a ser encontrada.

Se você pretende ser útil na vida, aprenda a fazer boas perguntas mais do que sair arrogantemente ditando respostas. Se você ainda é um estudante, lembre-se de que não são as respostas que são importantes na vida, são as perguntas.

Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)

Editora Abril, Revista Veja, edição 1898, ano 38, nº 13, 30 de março de 2005, página 18

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

E o Egito? O que aconteceu?

Egito: a esfinge de estômago vazio.


A globalização industrial no Magreb e norte da África levou a uma inaudita espiral de desemprego, miséria e fome absoluta para a população. É isso que move as atuais rebeliões sociais na região.


JOSÉ MARTINS


De Tunis ao Cairo, povos lutam para se desfazer de seus grilhões. Esse é título da coluna de Silvia Cattori em seu indispensável blog Political Writings. Veja como a sensibilidade de uma combatente jornalista é capaz de descrever com perfeição a natureza das coisas: “Quando, em 17 de Dezembro de 2010, um jovem estudante tunisino, Mohamed Bouazizi, levado ao desespero, se imolou em fogo, depois que uma policial seqüestrou os poucos legumes que ele vendia para garantir dignamente as necessidades de sua família, quem poderia imaginar que seu gesto iria incendiar o coração de milhões de pessoas, tomar conta da Tunísia, conduzir um mês depois à fuga de Ben Ali e à queda do seu regime, livrar povos inteiros de seus medos e levá-los à revolta?” 1
Aqui é o estômago que comanda as idéias e as rebeliões políticas no norte da África e Oriente Médio. A fome que assola a população foi o estopim de rebeliões simultâneas do Magreb (Argélia, Marrocos e Tunísia) ao Egito, Jordania, Iêmen, etc. A questão palestina e outros conhecidos problemas do chamado mundo árabe não determinam os atuais acontecimentos. Não estamos frente a meras motivações étnicas, nacionais, religiosas ou, como preferem os ideólogos do império, a um “choque de civilizações”. Não se trata de cristãos (e judeus) de um lado e de muçulmanos do outro. Trata-se de capital (e capitalistas) de um lado, e trabalhadores do outro. As causas dessas atuais rebeliões são predominantemente materiais, quer dizer, econômicas.
Diferentemente de muitas outras grandes produtoras de petróleo da área, como a Líbia e as demais localizadas em torno do Golfo Pérsico, as economias atualmente convulcionadas do Magreb, Egito, etc. não têm muito petróleo. São marcadas mais por uma nova estrutura econômica criada pela onda de globalização produtiva (indústrias montadoras e agronegócio exportador) das últimas décadas. Compõem um novo e lucrativo espaço de valorização (lucro) das empresas maufatureiras e agroindustriais. É essa nova base de imperialismo econômico – introduzida nestes países de maneira mais intensa neste início de século 21 – que aumentou rapidamente a miséria da sua população e agora transforma a natureza dos conflitos políticos da região.

PULANDO DO NAVIO – No Egito – com cerca de 80 milhões de habitantes a serem tosquiados pelo novo capital globalizado e coalhado de montadoras globais, é a velhíssima luta de classes que ultrapassa a geopolítica e entra em cena de forma mais decisiva, acelerando o processo social. Os dirigentes das gigantes empresas globais sentem a porrada. Vislumbrando nas rebeliões atuais sinais de derretimento do Estado e ingovernabilidade burguesa, os capitalistas são os primeiros a pular do navio: “Empresas internacionais estão interrompendo as operações no Egito, enquanto uma revolta contra o governo local entra no sétimo dia, depois de deixar ao menos 125 mortos. A cervejaria Heineken, a empresa do setor químico AkzoNobel, a companhia de produtos de consumo Unilever e as montadoras Nissan Motor e General Motors (GM) estão entre as empresas que suspenderam a produção no país. A Heineken informou que interrompeu as operações, retirou 25 funcionários estrangeiros em aviões particulares e pediu que os empregados egípcios fiquem em casa. A cervejaria emprega 2.040 pessoas no país. Um porta-voz da Unilever informou que as operações da companhia no Egito estão suspensas desde quinta-feira. Segundo ele, a empresa pretende retirar dois funcionários e 12 consultores estrangeiros do país assim que possível.”
“A atual situação política no Egito afetou a maior parte das indústrias, inclusive as automotivas. A instabilidade vivida pelo país fez com que a maioria das fábricas fechasse as portas por tempo indeterminado. A preocupação, além da falta de peças, é de que os veículos não cheguem a seus destinos. Até agora, Mercedes-Benz, BMW, Nissan e General Motors já emitiram comunicados oficiais, informando a suspensão de suas atividades. Já a Volkswagen, por enquanto, só parou as linhas de montagem, mas é provável que em breve outros setores também sejam fechados, para evitar vandalismo. A Mercedes ainda tomou a ação de retirar seus trabalhadores estrangeiros do país, para garantir sua segurança. O Egito hoje é um dos maiores produtores da região, tendo presentes em seu território muitas marcas como Brilliance, BYD, Chery, Chevrolet, Daewoo, Fiat, Hyundai, Isuzu, Jeep, Jinbei, Lada e Mahindra, além das citadas acima.” 2
Como na China, no México, no Haiti, etc., as “empresas mundiais” instaladas no Egito foram centralizadas em plataformas de exportação ou Zonas Francas, paraísos de desregulamentação, onde essas empresas são totalmente isentas de impostos e demais taxas, com liberdade para movimentar entrada e saída de capitais, ausência de leis trabalhistas, etc. É o que explica orgulhosamente em seu site a própria General Authority for Investiment [Autoridade Geral de Investimento] do governo egípcio: “O Egito tem incentivado a criação de Zonas Francas [Free Zones] desde o início dos anos 1970, com o objetivo de aumentar as exportações, atrair investimentos externos, introduzir tecnologias avançadas e criar mais oportunidades de emprego. As Zonas Francas estão localizadas no território nacional mas são consideradas áreas ao largo do território [offshore]. Os investidores que operam dentro das Zonas Francas exportam acima de 50% de sua produção total. Dentre os incentivos e garantias da Zona Franca estão a isenção permanente [life time, no original] de todos os impostos e taxas; ausência de qualquer regulamentação sobre importações/exportações; opção de vender pequena parte da produção no mercado interno, desde que sejam pagas as tarifas alfandegárias; ausência de regulamentações trabalhistas. Para facilitar as operações de importações/exportações, as Zonas Francas estão usualmente localizadas junto a portos marítimos e aeroportos” 3
As classes dominantes no Egito (e nas demais economias do norte da África) crêem piamente nas promessas dos manuais neoclássicos de Economia Internacional ensinada nas faculdades de Economia do mundo todo.4 E fizeram zelosamente o trabalho sujo de encarcerar sua faminta população nas imundas linhas de montagem industrial das Zonas Francas e projetos de agronegócios. Mas até agora, a despeito de uma enorme satisfação (e gordos lucros, off course) dos capitalistas estrangeiros e nacionais com a rígida aplicação daqueles manuais, os resultados são muito diferentes que fora prometido à população trabalhadora pela propaganda imperialista das maravilhas do livre mercado. Os resultados desta aventura das burguesias do Magreb e norte da África estão a levar a uma inaudita espiral de desemprego, miséria e fome absoluta nos seus países. A aplicação prática da ideologia econômica liberal, que prometia felicidade e bem-estar para todos, acabou fornecendo o combustível para as atuais rebeliões populares.

EXTASE LIBERAL E RESSACA DO CAPITAL – Não é por acaso que para qualquer aspecto político, geopolítico, cultural, religioso, etc. que se considere nas atuais rebeliões a economia está presente. As razões estão no recente processo de globalização que inundou a região de capital e sua ação altamente dissolvente de velhas estruturas nacionais. No Egito, por exemplo, a principal economia da área, as privatizações e a forte abertura das fronteiras ao capital globalizado resultaram, no período 2003/2007, em um forte afluxo de investimentos externos diretos (IED). Vejam os números oficiais a respeito, apresentados em recente relatório da Economic and Social Commission for Western Asia (ESCWA). 5
2003 – US$ 450 milhões;
2004 – US$ 2,161 bilhões;
2005 – US$ 5,376 bilhões;
2006 – US$ 10,043 bilhões;
2007 – US$ 11,578 bilhões.
Em 2007, o fluxo liquido de IED no Egito era cerca de 25 vezes maior que em 2003. Como percentagem do PIB, pulou de mero 0.6% em 2003 para 8.8% em 2006. Essa velocidade de expansão do IED foi disparadamente a maior do mercado mundial. Na América Latina, por exemplo, o volume de entrada de IED no mesmo período não chegou a dobrar. Para a China – reconhecidamente um dos maiores receptores mundiais deste tipo de investimento – o fluxo de entrada saltou de US$ 53,5 bilhões para US$ 69,5 bilhões. Apenas cerca de 30% maior. 6
Essa enorme onda de investimentos resultou em uma taxa muito elevada de crescimento do PIB – de aproximadamente 4% de crescimento em 2004 para mais de 7% em 2008. As reservas internacionais também subiram velozmente, de US$ 14,9 bilhões em 2004 para US$ 34,7 bilhões em 2008. Mas havia uma pedra no meio do caminho. A crise de 2008/2009 interrompeu bruscamente esse “crescimento brasileiro” da economia egípcia. E a superprodução da fase anterior de êxtase liberal transformou-se em uma ressaca do capital: queda na produção, crescentes déficits macroeconômicos e níveis socialmente inaceitáveis de desemprego.
Em detalhado trabalho do economista Samir Radwan tratando desse impacto da crise global de 2008/2009 sobre o Egito, encontramos as seguintes conclusões: “A crise econômica e financeira global se transmitiu negativamente na economia egípcia de maneira muito particular, desde meados de 2008. O impacto foi mais pronunciado no setor real da economia do que no setor bancário. O impacto na economia real refletiu-se nos seguintes indicadores: 1) declínio do crescimento do PIB de 7,2% em 2007/2008 para aproximadamente 4% em 2008/2009; 2) redução do fluxo de IED e declínio do investimento interno; 3) aumento do retorno de migrantes e expectativa de queda nas remessas7; 4) pressões crescentes no balanço de pagamentos; 5) colapso das bolsas de valores; 6) desaceleração do crescimento de setores econômicos, especialmente no setor do turismo, manufaturas e Canal de Suez.
A prolongada recessão do mercado de trabalho e a conseqüente deterioração social são os mais sérios aspectos da crise econômica e financeira global no Egito. O maior impacto imediato da crise foi a incapacidade do mercado de trabalho se ajustar, exacerbando o problema do desemprego, e agravando a situação de grupos específicos como as mulheres e os jovens” 8
O show capitalista tem que continuar. Crescimento econômico ou revolução. Para a economia voltar a crescer o capital tem que recuperar a taxa de lucro do período de expansão do ciclo anterior. Mas para isso os trabalhadores devem receber menos pelo seu trabalho e pagar mais pelos seus alimentos. É esse processo que leva milhões de pessoas, como Mohamed Bouazizi, ao desespero e à morte. Resumindo: a exploração e miséria dos trabalhadores devem aumentar para que o capital se recupere da crise. Mas essa necessidade destaca dois problemas muito graves na economia do Egito e vizinhança: o preço da força de trabalho já é muito baixo e o preço dos alimentos está mais alto do que nunca. Dá para arrochar ainda mais? Trataremos desses problemas no próximo boletim.


1 Silvia Cattori, De Tunis au Caire, des peuples luttent pour se défaire de leurs chaînes, Blog « Political Writings - Silvia Cattori » http://www.silviacattori.net.
2 Informações colhidas em duas fontes: Isto É Dinheiro, “Empresas estrangeiras suspendem operações no Egito”, 31/Janeiro/2011, http://www.istoedinheiro.com.br e Carros Blog, “Principais montadoras suspendem a produção no Egito”, 31/Janeiro/2011 www.carrosblog.com
3 General Authority for Investiment, “The Egyptian Free Zones”, Cairo, fevereiro 2011 http://www.gafinet.org
4 A chamada escola neoclássica da Economia Política corresponde à visão mais liberal e vulgar da economia e do mundo capitalista. É a visão econômica mais didática e popular, predominante tanto na academia quanto nos governos e na mídia em geral. É a visão apologética da naturalidade da propriedade privada, do Estado, do mercado e do capital. Qual cidadão comum poderia imaginar um mundo sem essas coisas tão “naturais”? Os neoclássicos (e seus primos keynesianos) existem para negar ideologicamente essa possibilidade.
5 A ESCWA é uma instituição da ONU que corresponde, grosso modo, a uma CEPAL da Ásia Ocidental. Os dados macroeconômicos da região podem ser encontrados em seu site www.escwa.un.org
6 Economic and Social Commission for Western Asia (ESCWA), “Foreign Direct Investiment Report”, United Nations, New York, 2008.
7 Observação da Crítica: Esse fator dos migrantes é muito importante para as economias da região. Uma massa enorme de trabalhadores migra para o exterior (principalmente para os países produtores de petróleo do Golfo Pérsico) e remetem grande parte dos seus rendimentos para a família que ficou no Egito, Tunísia, etc. São volumes relativamente elevados para o balanço de pagamentos do país. Agora, com a crise atingindo o investimento e emprego naqueles países petrolíferos, os migrantes retornam para o Egito, o que origina dois problemas: um macroeconômico, na medida em que o grande volume de divisas remetidas anteriormente desaparece e deixa de ser contabilizado no balanço de pagamentos; outro social, na medida em que o retorno desses trabalhadores agora engrossa as multidões de desempregados em seu país de origem e suas famílias vêem desaparecer suas fontes de sustento.
8 Samir Radwan “Economic and Social Impact of the Financial and Economic Crisis in Egypt”, International Labor Office, United Nation, Abril 2008.